Quem corre não chupa cana

Em tempos de susto com os rumos do petróleo, as apostas no etanol e nas energias alternativas devem subir. Sobre as condições de trabalho nos canaviais, entretanto, a maior parte dos consumidores sabe muito pouco ou quase nada. Quando a gente pensa num carro, idéias comuns que vem à cabeça são as de conforto, elegância, altivez. Nenhuma delas passa pela cabeça de quem trabalha cortando cana. Pra estes homens e mulheres, alguns minutos de descanso já seriam luxo. Enquanto o setor sucroalcoleiro fecha o ano de 2010 com safra recorde - 625 milhões de toneladas -, o cortador de cana realiza uma maratona pra manter-se vivo e "competitivo". Deve cortar pelo menos umas dez toneladas de cana por dia pra garantir o trabalho.

A relação com as maratonas não é figura de linguagem. Pesquisadores da Unimep descobriram, há anos atrás, que o desgaste físico do cortador de cana equivale mesmo ao do maratonista. Lembra da Maria Zeferina Baldaia,campeã da 8a. Maratona Internacional de SP? Pois bem, era cortadora de cana. Muita gente se emocionou com a história de Zeferina na televisão. O evento tirou-a do anonimato. Bom pra Zeferina que mudou de vida. Pena que a mise-en-scène não abriu os olhos da Opinião Pública para o estranho da situação: que Maria Zeferina já estivesse habituada a correr uma maratona por dia, cortando cana.


Comentários

  1. Incrível pensar nas condições de vida dessas pessoas com relação a quantidade de dinheiro que o mercado movimenta. É desumano, pena ser a realidade. Confesso que esse lado da sociologia do consumo, pessoalmente, me interessa até mais que o de Gestão de crise.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Thiago!

      Por incrível que pareça, só hoje vi o seu comentário. Fico contente que vc aprecie mais a sociologia do consumo, na sua vertente mais crítica, do que a Gestão de Crise. Eu também. Um grande abraço e espero que tudo esteja bem com vc!

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas