Mercado de Trocas para Crianças em Coimbra completa 3 anos


 Pois é, pessoal. O consumo solidário está criando raízes em Coimbra.

O Mercado de Trocas para Crianças e Jovens, que nasceu em Setembro de 2011 (veja-se http://monoculturadoconsumo.blogspot.pt/2011/09/os-jardins-moeda-social-dinamiza-troca.html e, também, http://monoculturadoconsumo.blogspot.pt/2011/10/brincadeira-boa-nao-precisa-de.html para relembrar), está chegando a sua sétima edição. São três anos de existência, o que não é pouco, principalmente porque esta feira de trocas serviu de inspiração para dez outros projectos semelhantes de Portugal.

O 7º Mercado de Trocas para Crianças e Jovens é um projeto da Casa da Esquina, em colaboração com o Grupo de Estudos sobre Economia Solidária do CES (ECOSOL/CES) e com o apoio de investigadores do Centro de Estudos Sociais. Recentemente estendida aos jovens, esta iniciativa tem um fundamento político-pedagógico, que é o de desprender as trocas de um modelo capitalista de atribuição de valor, valorizando a emergência de outras formas de pensar a organização da vida económica, no âmbito familiar.

Agora, em 2013, surgiram algumas mudanças: o Mercado deixou de acontecer no Jardim Botânico (de onde, aliás, veio o nome da moeda social que utiliza) e passou a realizar-se em vários espaços do património cultural da cidade de Coimbra. Esta foi, sem dúvida, uma excelente ideia da Casa da Esquina, estimulando outros modos - mais lúdicos e leves - de ocupar a cidade e seus múltiplos espaços. Em sua sétima edição, o Mercado de Trocas para Crianças e Jovens será nos Claustros da Faculdade de Direito. Sem dúvida, estes claustros não serão os mesmos depois da irreverência e da alegria das crianças que por ali passarão neste sábado próximo, dia 5 de Outubro.


  Que sentidos são partilhados no Mercado de Trocas para Crianças e Jovens?

O objectivo primeiro deste mercado de trocas - que recebe sempre gente nova e tem adeptos que não perdem uma feira sequer - é promover  o desapego das crianças e dos jovens em relação aos brinquedos e bens diversos consumidos (roupas, acessórios, dispositivos tecnológicos etc). É cada vez mais comum, nas diversas faixas etárias, que o sentido de divertimento apareça atrelado, no imaginário infanto-juvenil, à ideia de acumulação de objetos sempre novos. O mercado de trocas para Crianças e Jovens tem, aqui, um papel pedagógico importante: o de contribuir para desfazer a crença de que só as coisas novas têm valor e servem para divertir, estimulando um ciclo de vida mais amplo para brinquedos, games, livros e outros bens, postos em circulação (às vezes mais do que uma vez) pelas crianças e jovens que participam da iniciativa.

Mas não é só. Além da propor também uma reflexão sobre as representações que são dominantes no consumo capitalista, o mercado de trocas para crianças estimula um sentido solidário de partilha. Em oficinas escolares feitas no início da experiência, o Mercado de Trocas trabalhou com a criação de brinquedos coletivos (onde o sentido de partilha - e não o de concorrência e diferenciação - fez toda a diferença). Três oficinas foram planejadas à ocasião no âmbito de uma disciplina do curso de Animação Sociocultural da ESEC (Escola Superior de Educação de Coimbra), também parceira da Casa da Esquina: Brincadeira boa não precisa de brinquedo novo, Brinquedo parado não diverte e Dividir pode ser Multiplicar: porque os brinquedos devem voltar ao circuito de trocas. Pensar e realizar estas oficinas mostraram-nos bem o sentido e a importância de um projeto pedagógico que repensasse o consumo no dia-a-dia das crianças, inclusive nas escolas. A acumulação e a concentração de bens tornaram-se uma constante nos hábitos infantis e juvenis de consumo. Como construir uma lógica diferente na sociabilidade das crianças?

O Mercado de Troca das Crianças se colocou esta pergunta há três anos atrás. A experiência floresceu desde então. Pais e Mães são também convocados, durante a experiência, a repensar alguns de seus valores.

Nesta iniciativa, usamos uma moeda social - os jardins -, que não está ancorada no euro. A presença da moeda social tem vários significados, mas, antes de mais, amplia as condições de troca entre participantes com produtos muito diferentes. A ausência de paridade foi uma opção pedagógica: buscamos, com ela, estimular a construção do valor das coisas conforme um sentido particularmente atribuído pelas crianças e jovens, na contramão do valor e do valor de troca estabelecido pelo mercado.

Para participar deste Mercado é mesmo muito simples. Basta levar um ou mais brinquedos (que estejam em boas condições de uso) e uma manta para exposição. No mais, a diversão é garantida

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